Crystal Voyager

14 maio 2009


- George! Pode me ouvir George ?
Por 23 intermináveis minutos tudo que George ouvia, ou via, era água.
George sabia que os filmes de surfe nunca mais seriam os mesmos, tudo que se percebia ao redor do surfe mudaria para sempre.
O filme chamava-se Crystal Voyager e seria um mero documentário sobre um cara esquisito e seus estranhos hábitos não fosse pelos 23 minutos finais.
O cara esquisito era o George, George Greenough, um personagem tão rico e complexo que merece parágrafo de apresentação.
Hoje George beira os setenta, com 21 revolucionou o design das pranchas, inspirado pelo não menos excêntrico Bob Simmons, criando pranchas capazes de atingir velocidades assustadoras devido à flexibilidade que Greenough conseguia com o deck cavado em forma duma colher.

George deixou de surfar em pé ainda no início dos anos 60 e dedicava-se a correr ondas de joelhos e deitado.
Auto-didata, criou em 1965 um modelo que batizou de Velo, provavelmente uma das cinco pranchas mais influentes em toda história do surfe. A Velo é responsável pelo título mundial do Nat Young em 66, pela troca brusca de direção de Slater, pelo arco da cavada do Lopez, pela voadinha do Clay Marzo, pelos tubos do Rasta, por voce e por mim.
Logo que a década de 70 começa, George reiventa nosso olhar e leva uma câmera para dentro d'água, quero dizer: Pra dentro do tubo.
Greenough rompe com a tradicional imagem do surfista na terceira pessoa e passa a filmar na primeira pessoa, quem está na onda não é mais o surfista, é voce.
A imagem que voce vê não é mais do ponto de vista de quem olha da praia ou dentro do mar em cima duma prancha olhando do canal, desta vez a onda é a protagonista e o surfista um detalhe superfluo.

Em 1970, Innermost Limmits of Pure Fun, primeiro filme que George realizou, trazia um segmento chamado The Coming of the dawn, todo filmado com uma câmera fixada ora no bico, ora na rabeta da sua prancha, anunciando mudança no comportamento de toda contracultura onde o surfe se confundia.

Mas é em 75, come esses benditos 23 minutos, que George transcende o gueto do surfe e alça voô para um público maior.
David Elfick e Albie Falzon (produtor e diretor de Morning of the earth) se reúnem para realizar um documentário sobre o inusitado estilo de vida de Greenough: George planejando e construindo um barco, George desmontando câmeras, George sendo apenas George.
Os primeiros 50 minutos de Crystal Voyager são somente isso: dia a dia de Greenough com sua narração seca e direta.

E então acontece...
Do escuro da tela aproxima-se a palavra Echoes.
O ruído de pingos d'água parecem familiares, é uma canção do Pink Floyd!
Vemos as mais incríveis cenas aquáticas jamais vistas, uma explosão de cores e texturas que nos deixam zonzos com tamanha beleza.
Suave, a voz canta:

Overhead the albatross 
Hangs motionless upon the air 
And deep beneath the rolling waves 
In labyrinths of coral caves 
An echo of a distant time 
Comes willowing across the sand 
And everything is green and submarine
Não estamos mais diante de um filme de surfe, aquilo é arte delirante, é uma instalação, uma performance.

Todo tempo a câmera se mantem submersa, admirando aquele universo que começa e acaba numa onda, raramente conseguimos ver alguma cena em cima d'água.
Somos peixes, somos água, somos surfistas como nunca antes fomos.
George cria uma grande angular para nos emprestar o verdadeiro olhar do peixe, em quase 180 graus, uma visão fabulosa da terra vista do mar, debaixo d'água, atrás duma onda.
Nos perguntamos seguidamente por que não nos mantemos debaixo d'água para ver tudo aquilo rotineiramente.
A resposta pode vir simples: porque é bonito demais e tanta beleza assim pode enlouquecer.
A música cresce e a câmera de Greenough resolve emergir.

Gilmour martela sua guitarra e Waters (vejam só que coincidencia!) batuca o baixo enquanto o tapete mágico de Greenough começa sua viagem pelas destorcidas paredes de ondas completamente absurdas.
Originalmente Echoes deveria falar sobre a imensidão do espaço, supostamente inspirada pelo filme 2001 de Kubrick (inclusive há uma lenda que diz que todo final do 2001 pode ser sincronizado com a canção do Floyd), algo mudou para o infinito do oceano e casou perfeito com as imagens de Greenough.
Ou seja: Greenough fazia com as imagens a mesma coisa que Pink Floyd fazia com seu som.
Estamos dentro do tubo, em câmera lenta, a realidade vira uma gota na lente, espatifa-se e espalha pela tela.
O tempo já não é mais tempo, é movimento, e o tubo arremessa tudo que tem para frente e para os lados.
Não somos mais nada.
George finalmente responde:
'Voce pode estar ali apenas por alguns segundos, de verdade, mas sua mente pode ficar ali por horas...
Muitas vezes voce fica tão dentro do tubo que não há saída.
Voce cai terrivelmente.
O que interessa é que quando voce está lá dentro. É o tempo que voce passa ali dentro.
O tempo entra numa dimensão própria.
A única realidade é a que acontece ali dentro.'


Fonte: http://julioadler.blogspot.com

Lançamento: 1972
Áudio: Inglês
Legendas: Não
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 116 kbps
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1116 kbps
Vídeo Info: 480x272 # 23.976 fps
Tamanho: 700 MB
Duração: 78 min




MegaUpload
Parte Única


Links Alternativos
Torrent | eMule

3 comentários

  • Felipe Siebert

    Bixo, tais me surpreendendo... George Greenough!!!

    aqui vai um curta produzido esse mês pelo pessoal de Santos, falando dele: http://www.youtube.com/watch?v=YPGbUT2GI3U&feature=player_embedded

    obviamente a galera só conhece o kelly slater, mas valeu teu esforço... hehe, bom texto...

  • Agora atiçou pra assistir esse "Innermost Limmits of Pure Fun", hein? :)

    Vc teria também como arranjar o 110-240, da quiksilver?

  • rico

    O filme inteiro é irado, mas o take final com o som do Pink Floyd vale um prêmio de viagem sonora... hehehe

  • Postar um comentário

    Leia as regras:
    Todos os comentários são lidos e moderados previamente.
    São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo:

    - Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
    - Pedidos de filmes ou músicas nos comentários serão ignorados;
    - Não será aceito propaganda de outros blogs;
    - CAIXA ALTA não será tolerado;
    - Ofensas pessoais, ameaças e xingamentos não são permitidos.